Ator Tarcísio Vória desenvolve projeto teatral no Presídio de Cataguases

Ator Tarcísio Vória desenvolve projeto teatral no Presídio de Cataguases

O ator e jornalista cataguasense, Tarcísio Vória, está desenvolvendo a oficina Encontro EnCena, criado por ele em 2017, inicialmente com a ideia de compartilhar com outros atores e não atores da cidade, exercícios e vivências absorvidas durante sua graduação em interpretação pelo Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto. “Aproveitava o período de férias para reunir colegas e pessoas interessadas, dividindo o que vinha aprendendo naquele momento”, revela.

Retomando gradativamente suas atividades após o período crítico da pandemia, Tarcísio inicia uma nova fase do Encontro EnCena com o patrocínio da Fundação Bauminas. De julho a dezembro de 2022 o projeto assiste 10 reeducandos com idade entre 22 e 45 anos, alunos do ensino fundamental no Programa de Educação para Jovens e Adultos, do Núcleo de Ensino e Aprendizagem instalado no Presídio de Cataguases. “Penso que a Bauminas viu no Encontro EnCena uma possibilidade de extensão ainda maior do seu raio de atuação, com o teatro presente também na unidade de ensino do Presídio de Cataguases”, analisa Tarcísio.

Desta vez ele leva para o presídio a metodologia da oficina com a base do “Teatro do Oprimido”, criado pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal. Trata-se de uma proposta pautada por jogos de preparação que rompem a “parede” que separa platéia e ator. São exercícios cênico-pedagógicos que transformam o espectador em sujeito atuante, incumbido de modificar e também protagonizar a ação dramática que lhe é apresentada. “Boal, ao longo da sua trajetória, trabalhou com sertanejos, indígenas, comunidades carentes e também penitenciárias. E seguindo seu legado, o objetivo do Encontro EnCena é reforçar a ideia de que é possível, sim, exercitar e produzir teatro no ambiente carcerário, de forma horizontal, dialógica, e em uma sala com 16 metros quadrados”, garante o ator cataguasense (foto ao lado).

Um dos entusiastas do projeto é o Diretor Geral do Presídio de Cataguases, Valdiney Mariano que destaca a importância da atividade. “O teatro dentro do sistema prisional pode ser mais que uma quebra da ociosidade e interação de forma lúdica. Ele tem como principal função transformar vidas”. O reeducando Julio, de 28 anos, comenta que a participação nas atividades vêm sendo muito satisfatória e com muito aprendizado. “Elas têm me mostrado uma outra forma de ver as coisas”. Já Robson, de 25 anos, disse achar muito interessante: “paramos para refletir coisas que não pensamos muito. Trabalhamos fisicamente e com teoria. Estou muito satisfeito”.

Para a presidente da Fundação Bauminas, Andréia Bissoli, a instituição tem como meta promover a igualdade de direitos e a democratização do acesso à cultura. “Neste ano de 2022 a Fundação está presente de forma ainda mais efetiva, com as pessoas ainda mais próximas e pertencentes aos nossos projetos: nas escolas, praças e demais espaços públicos. Não apenas em Cataguases, mas em diversas regiões do Brasil”, revela.

Assista aqui ao vídeo da 1ª edição do Encontro EnCena 2017.

Como tudo começou

Ainda na faculdade, sob orientação da professora Lucienne Guedes Fahrer (integrante-fundadora do grupo Teatro da Vertigem SP), Tarcísio desenvolveu uma pesquisa relacionada à encenação em espaços alternativos.

O estudo originou a montagem de uma releitura do clássico do Teatro do Absurdo, “Esperando Godot” (foto abaixo), do dramaturgo irlandês Samuel Beckett, apresentada em 2019 no aterro sanitário de Ouro Preto/MG pela programação do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana.

“Na verdade, “Godot” foi o somatório de experiências que iniciaram na minha adolescência, com apresentações em hospitais, asilos, APAES e Centros de Atenção Psicossocial. É na ação democrática do teatro que acredito e me encontro. Fora da caixa, maleável, que se reconstrói em qualquer espaço e para qualquer pessoa”, conclui o ator cataguasense.

Ator Tarcísio Vória desenvolve

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Foto Divulgação e Rafael Aguiar.
* Por questão de segurança, os nomes dos reeducandos foram substituídos nesta matéria.